São Caetano: de vice-campeão da Libertadores ao ostracismo e iminente risco de falência

09 Outubro 2023

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Quem pôde acompanhar a ascensão do São Caetano, carinhosamente apelidado de Azulão, jamais poderia imaginar o que aconteceria com o clube na segunda década do século XXI. Promovido à primeira divisão do futebol paulista em 2000, o ainda desconhecido time do ABC Paulista chegou como um rolo compressor no cenário nacional e 23 anos depois, pode ser obrigado a fechar as portas.

A sensação São Caetano

A Trivela explica, em detalhes, como o time decaiu e agora enfrenta sérios problemas financeiros, que podem causar o bloqueio dos seus bens pela Justiça.

Em 2000, o São Caetano foi vice-campeão do Módulo Amarelo da Copa João Havelange, e enfrentou o Vasco da Gama na decisão daquela competição. O time se manteve muito competitivo em 2001, cravando um vice-campeão brasileiro, quando perdeu a final para o Athletico Paranaense de Geninho e Alex Mineiro. Mas o ápice do Azulão veio um ano depois.

Em 2022, o time paulista fez uma campanha histórica na Libertadores, e por muito pouco não chegou a conquistar a Glória Eterna. A América do Sul parou para assistir ao São Caetano de Jair Picerni, que tinha como formação base a seguinte escalação: Sílvio Luiz; Russo, Daniel, Dininho e Rubens Cardoso; Marcos Senna, Adãozinho, Robert e Anaílson; Somália e Aílton.

Na final, o Azulão enfrentou o Olímpia do Paraguai, do goleiro Tabarelli e do meia Orteman. Apesar de ter vencido o primeiro jogo daquela final por 1 x 0 no Defensores Del Chaco, o Azulão perdeu de virada o jogo de volta no Pacaembu por 2 x 1, e acabou perdendo o título nos pênaltis.

Dois anos mais tarde, o São Caetano se manteve como um clube forte, e que sempre incomodou muito os times considerados grandes. Em 2004, o Azulão faturou o título estadual em cima do Paulista de Jundiaí, na 2ª final “caipira” da história da competição. Treinado por Muricy Ramalho, a equipe do ABC venceu os dois jogos, realizados na época no Pacaembu, sendo 3 x 1 no primeiro jogo e 2 x 0 no segundo.

São Caetano: do céu para o abismo em 19 anos

A partir daí, o clube não conseguiu mais se manter tão competitivo, e começou a acumular dívidas, e mais do que isso, a falta de estrutura financeira fez o time despencar, e praticamente sumir do mapa, tanto no cenário nacional quanto no estadual. Em 2023, a Associação Desportiva São Caetano foi rebaixada no Campeonato Paulista A2, e jogará a 3ª divisão de São Paulo em 2024.

Entre o final de 2022, e o início de 2023, o departamento de futebol do São Caetano tentou vender o clube para algum investidor, em uma tentativa de aderir ao modelo de gestão das SAFs. Porém, as duas tentativas foram frustradas por conta da falta de investidores. O São Caetano possui uma série de dívidas trabalhistas, fiscais e extrajudiciais. O primeiro lance oferecido a possíveis financiadores foi de R$90 milhões. Com a negativa, um novo pregão foi desenvolvido no valor de R$60 milhões, também sem sucesso.

Rompimento com dono das Casas Bahia culminou em uma crise quase sem fim

O Azulão se tornou o que foi por conta do aporte financeiro de Saul Klein, herdeiro das Casas Bahia e um dos empresários mais ricos do Brasil. A relação entre Klein e São Caetano durou até 2020, quando houve um rompimento entre as partes. Nos últimos anos de parceria, uma crise financeira sem precedentes atingiu o clube, a ponto de acumular mais de seis meses de salários atrasados, seja para jogadores, funcionários e fornecedores. Um caso polêmico de W.O pela recusa dos atletas em entrar em campo, e uma derrota por 9 x 0 no Campeonato Brasileiro da Série D também marcaram os últimos e tristes anos do clube.

Praticamente sem calendário para disputar na próxima temporada, o São Caetano está sufocado por dívidas, e o que já foi um time temido no início dos anos 2000, corre o risco iminente de decretar sua falência nos próximos dias. Na última sexta-feira (6), a empresa Stars Securitizadora, que prestou alguns serviços para o clube, entrou com um pedido na Justiça de um pagamento de valores devidos, que somados chegam a cerca de R$2,8 milhões.

Com isso, a empresa entrou com um pedido de falência de Confissão de Dívida por parte do São Caetano, que possui um prazo de até 10 dias, desde a emissão deste pedido judicial, para quitar os valores. Caso contrário, todos os seus ativos passarão a ser gerenciados por um Administrador Jurídico, escolhido por um Juiz de Direito, para que todos os valores devidos pelo clube sejam quitados.

A Trivela conversou com o advogado especialista da área, o Dr. Ricardo Del Sole do S.DS Advogados, que deu mais detalhes dos procedimentos a serem seguidos a partir de agora, e o que poderá acontecer com o São Caetano caso a dívida não seja paga no prazo estipulado. Del Sole também acompanhou o andamento do processo de recuperação judicial do Guarani, que está disputando a Série B do Campeonato Brasileiro, e que pretende se tornar SAF nos próximos anos.

O clube campineiro tinha um alto montante de dívidas oriundos de ações trabalhistas, mas tem conseguido colocar as suas contas em ordem, e pode, em um prazo bem curto, seguir um caminho de muito sucesso dentro do cenário futebolístico nacional.

A partir de agora, o São Caetano terá este prazo (de 10 dias) para realizar o pagamento desta dívida junto à Stars Securitizadora. Caso o montante devido não seja quitado, o clube terá todos os seus bens e ativos congelados, e um Administrador Judicial, escolhido pelo Juiz, será o responsável por listar os credores do clube, e vender o que o clube tiver para a realização do pagamento deste valor, afirmou Del Sole.

O advogado ainda explicou as diferenças entre o processo vivido pelo Guarani e São Caetano. No caso do Bugre, apesar de ter entrado com um pedido de recuperação judicial, e ter acumulado dívidas altas ao longo dos anos, o clube ainda detém a administração de todos os seus ativos, mas é acompanhado de perto por um gestor, que monitora as contas do clube para garantir que todas as dívidas sejam pagas. Já o Azulão terá todos os seus ativos transferidos de seu conselho administrativo para um profissional à parte do clube, e dedicado à análise, à listagem dos credores, e ao pagamento de todas as dívidas existentes.

Como o Guarani pretende se tornar uma SAF em breve, terá de quitar todas as suas dívidas, por isso, entrou com um pedido de recuperação judicial. Ao contrário da falência, o clube ainda detém o controle de seus ativos, mas é acompanhado de perto por um gestor judicial, que fiscaliza o pagamento do montante devido.

Já o São Caetano, caso não consiga fazer o pagamento deste valor no prazo estabelecido, terá seus bens e ativos congelados, e gerenciados por um administrador judicial, tirando este poder do conselho de administração do clube. Este profissional terá como missão listar todos os credores, e avaliar o que será possível fazer para realizar a quitação da dívida, explicou o advogado.

Sem projeção de melhora, São Caetano aguarda por um milagre

Outrora considerado uma potência, o São Caetano amarga as duras consequências de suas gestões ruins, e da falta de dinheiro. Caso seja concretizada a sua falência, o Azulão correrá o risco de não participar do Campeonato Paulista da Série A3 em 2024, e pior do que isso, ser punido pela Federação Paulista, e praticamente desaparecer do cenário profissional do futebol no Brasil.

A única esperança para o clube, e para o torcedor da cidade, que aprendeu a amar o time que quase foi campeão da América do Sul há 21 anos, é a chegada de algum investidor que possa gerar receita para o clube, e assim, sanar as suas dívidas.

Com a popularização dos clube-empresas no Brasil, o único caminho possível para a Associação Desportiva São Caetano é buscar por financiadores e apresentar um projeto eficiente para tentar salvar um dos representantes do ABC Paulista que foi mais longe na história do futebol da região.

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